22/08/2023


Cotidiano

“Estamos vivendo uma era de incerteza”, aponta economista

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Guarapuava – A posse de Barack Obama está sendo vista como a solução de todos os problemas mundiais. Porém, para o economista Carlos Alberto Gomes (foto), o primeiro passo dele será atender seu país e seus eleitores

O mundo parou para assistir a posse do então eleito presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, na última terça-feira, 20. Entre os presentes, não faltaram gritos de emoção e idolatria. É que muitos têm a eleição do político inexperiente, de 47 anos, recém-saído de seu primeiro mandato de senador, como o início de uma nova era.
O filho de uma norte-americana do Kansas com um queniano inicialmente não parecia ser páreo para a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, favorita para a candidatura democrata.
A vitória acirrada o projetou internacionalmente, e sua campanha logo o pôs sob os holofotes na imprensa mundial. Em julho de 2008, Obama fez um discurso na Alemanha que reuniu mais de 200 mil pessoas. Com palavras de mudança, rejeitando com veemência a doutrina Bush e condenando a guerra do Iraque, Obama ganhou o mundo e os EUA, derrotando o candidato republicano herói da Guerra do Vietnã, senador John McCain, levando seu partido de volta ao poder após oito anos.
Agora, as expectativas são altas: recuperar a imagem dos Estados Unidos frente à comunidade internacional, aliviar uma crise econômica comparada à depressão de 1929 e melhorar a auto-estima de seus cidadãos.
Para o economista Carlos Alberto Gomes, há uma grande expectativa mundial, mas primeiro ele precisa atender o seu país e os seus eleitores. “A posse do Obama tem duas faces. A primeira diz respeito à política externa, direitos humanos e quanto a isso parece mesmo que haverá uma melhora. No seu primeiro discurso como presidente já determinou suspensão de julgamentos na base de Guantánamo. Quanto à face econômica, o governo tem limitações em termos de decisão e ele mesmo admitiu que muitos dos problemas existentes levarão tempo para serem solucionados”, analisa.
A crise que se espalhou pelo resto do mundo já mostrou seus reflexos no Brasil, mesmo com esforços do governo e com a insistência que a economia do país não será prejudicada. Segundo ele, a crise no nosso país é perceptível em duas situações: nas restrições aos créditos e nas atitudes de precaução de empresas e das pessoas em geral. “Essas situações estão bem evidentes, a pessoas estão pensando duas vezes para fazer investimentos, para trocar de carro ou comprar uma casa”, observa.
O economista destaca que não há como fazer uma previsão a longo prazo. “Muitos dizem que essa crise é diferente da crise de 1929, uma vez que hoje o mundo está globalizado e que há meios para controlá-la. Já a outra corrente, mais pessimista e realista, afirma ela pode ser ainda superior, pois a população é bem maior e o mundo capitalista já está vivendo há tempo com crédito e não com o lastro. Então pode ser mais intensa e prolongada”, explica.
A economia norte-americana tem um déficit fiscal de mais de U$ 1 trilhão, ou seja, 10% do Produto Interno Bruto. “Não há recursos internos para sustentar essa crise e sem recursos para dar sustentação terá que buscar recursos de fora e, como conseqüência, poderá haver redução de crédito no resto do mundo. Vai faltar recursos para nós e com a falta de crédito teremos menos investimentos e empregos. O presidente está com um grande desafio”, aponta.
Gomes fala que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já está sendo afetado. “Havia uma previsão de 5% antes da crise e hoje institutos já trabalham com um percentual de 3,5%”.
Posição brasileira
O partido Democratas tem uma ideologia mais intervencionista, mas segundo Carlos Alberto Gomes, não se pode afirmar que o Brasil enfrentará maiores dificuldades comerciais.
Com relação à questão ambiental, o presidente formou uma comissão para a discussão em nível mundial do assunto. “Aí pode entrar o biodisel e o Brasil entra como um forte produtor. Mas acho que de uma forma geral a entrada de Obama é mais positiva”, destaca.
Ao contrário do que muitos chamam de uma “nova era”, o economista define o atual momento como uma “era de ebulição que a gente não sabe o resultado, uma era de incerteza”.

Cristina Esteche

Jornalista

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